domingo, 13 de dezembro de 2009

discos: top50 / #40 - #36

Em uma total onda de falta de inspiração para escrever qualquer merda: os 5 primeiros desse segundo podcast especial do top50. Até terça-feira aparecem os outros 5...



#36. Broadcast – HaHa Sound (2003)





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192 kbps



The United States of America. The Pretty Things. Can. The Zombies. Love. The Beatles. Silver Apples.
Em poucos mais de uma linha citei alguns dos principais expoentes do Rock Psicodélico, estilo musical que surgiu no final dos anos 60 e pereceu ainda na primeira metade da década seguinte. Sua importância foi fundamental para a música: artistas fundiram sua sonoridade a outras, e sua essência continuou sobrevivendo.
Broadcast certamente é um desses exemplos. Mas a capacidade de imprimir os idos anos 60 e seu gênero é única. O grupo britânico parece pegar todas as bandas citadas no primeiro parágrafo, jogar em um liquidificador e beber daquele liquido refrescante.
A percussão com arritmia, os sintetizadores sendo experimentados como se tivessem sido descobertos há poucos anos, a produção crua levando a ambientação de um long-play sessentista, tudo isso unido a belíssima voz de Trish Keenan.
“Colour Me In” funciona como um hino do reencontro o estilo. A suave balada “Valerie”: tão inocente, soa como uma canção de ninar, até ganhar sintetizadores que sobrepõe a música até seu fim. “Pendulum” e “Man Is Not a Bird” integram o álbum, mas poderiam ser muito bem regravações do The Pretty Things ou Silver Apples.
Tenho em mente que HaHa Sound não é um álbum retro. É o rock psicodélico revivido, sem perder nada daquela época que parecia estar somente adormecida. E somente o Broadcast soube utilizar o rock psicodélico de maneira tão pura, sendo assim, o grupo continua único em sua essência, e merece permanecer assim.








#37. Kanye West – Late Registration (2005)





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VBR



“Wake Up Mister West!”
Assim inicia a pretensiosa e bem sucedida obra de Kanye West, junto ao genial Jon Brion. Na linha tênue do hip hop e pop (estilo esse que o produtor e musico Brion saca muito bem), Late Registration se lança a um universo de samplers e beats impressivos.
Mas impressionante mesmo é a relação do “hit” propriamente dito, com o rapper em questão. Afinal, a produção de Late Registration faz ele funcionar como uma metralhadora de grandes canções para MTVs, algo que os artistas do pop comercial fazem muito bem (Britney Spears; Lady Gaga; etc), mas no caso do Mr. West, a qualidade de seus registros é indiscutível.
Analisar Late Registration faixa-a-faixa seria um trabalho complexo, afinal, o álbum se lança do puro pop de “Heard 'Em Say”; para simplicidade do samplers agressivo de “Gold Digger”; a introspecção “electro-gospel” de Roses; atravessando o ritmo sensual e realmente viciante como é a bem intitulada “Addiction”; à subversão da trilha de Diamonds are Forever (Diamonds From Sierra Leone); até emotividade de “Hey Mama” - aonde Kanye faz uma homenagem póstuma a sua mãe; finalizando com “Gone”, que se trata de pura improvisação sob um sampler a la Punch Drunk Love (e o Brion não produziu essa!).
Late Registration é uma carta ao hip hop, nela West escreve algo como: “nós podemos fazer assim também... sem problemas!” E nada mais, o resto está explicado através das músicas.








#38. The Caretaker – Persistent Repetition of Phrases (2008)





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320 kbps



Como eu estou um baita de um preguiçoso, recuperei a resenha que escrevi sobre esse álbum no início do ano comentando dos 10 melhores álbuns de 2008 e colei para cá, segue:

A mais nova obra de James Kirby sob o pseudônimo de Caretaker merece muita atenção. Digo isso, pois nas minhas primeiras experiências com esse álbum não foram bem sucedidas. Simplesmente não surgiu efeito. Todo aquele ruído de long-play, a repetição de sons, a sonoridade soturna… Não empolgou.
Mas foi preciso parar tudo o que eu fazia e me concentrar somente em persistir na repetição das frases. Eis que me senti como se estivesse num imenso salão de festas abandonado, onde se encontrava uma vitrolinha tocando Ballroom. A familiaridade da minha descrição aos ambientes de O Iluminado tem bastante sentido. Visto que o projeto The Caretaker começou a partir da famosa seqüência do salão de festas do filme de Kubrick. Sua proposta é samplear vinis das músicas que tocavam nos anos 20 e 30, criando um efeito único a quem escuta.
Persistent Repetition tem como intenção nos transmitir um passado abstrato, porém altamente palpável. Uma sensação de nostalgia vem à tona, diante de uma época que não vivemos. Acompanhada de uma solidão evidente que flutua sob cada sampler repetido.
Na primeira metade do álbum nota-se com clareza a repetição baseada nas músicas antigas, como se o criador quisesse chamar a atenção para o título da sua obra. A partir da quinta faixa (“Poor Enunciation”) entramos num território desconhecido. O vazio e a atemporalidade suplantam qualquer outra sensação, vez ou outra remetem ao gélido Nuuk de Thomas Köner. Em False Memory Syndrome retornamos ao velho salão inabitado, a “falsa memória” parece ser um dos elementos que ditam o álbum: As lembranças que já se foram. Von Restorff Effect é a canção onde o ballroom flui com mais clareza, mesmo com os efeitos sobrepondo, ela é como se fosse uma espécie de balada do álbum.
E por fim, mas uma vez a questão da memória é abordada no título “Unmasking Alzhiemer’s”, a partir de um som agudo, os ruídos se condensam àquele ambiente soturno e até certo ponto onírico.
Este é um álbum que deveria ser experimentado por todos, por mais complicado que pareça. E caso vocês experimentem, não se esqueçam dos fones de ouvido, por favor.





#39 Spoon – Girls Can Tell (2001)




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192 kbps



Um ano antes de experimentar todas drogas possíveis no excelente Kill the Moonlight*, Spoon foi mais suave nos seus arranjos e ofereceu ao mundo Girls Can Tell.
A concepção de produção crua e os riffs contínuos se sobrepondo me levaram a crer que o álbum daria uma bela trilha sonora de algum filme ambientado em um hangar abandonado (ouvir “Believing Is Art”).
Fato é que todas canções de Girls Can Tell tem seu brilho, mas alguns detalhes merecem ser relatados (sem a menor ordem cronológica): O violão de 1020 AM; O teclado minimalista de “Anything You Want”; A percussão (bateria + palmas) de “Take the Fifth”; A longa suite instrumental de “This Book is a Movie”; o refrão de “The Fitted Shirt” (aquele órgão é sublime); a guitarra western (?) de “Take a Walk”.
Britt Daniel e seu grupo conseguiram conceber algo tão extremamente chique quanto fumar um cigarro de blaser na porta de um pub em Londres (Isso é chique para mim, mas existirão controvérsias aqui.**). O mais impressionante é o indie rock rotulado pela mídia conseguir se sobressair a geral obviedade do gênero ao longo dos últimos anos.

*A banda não entrou numa viagem lisérgica para produzir o Kill the Moonlight e sim seu conceito de sketches + experimentações dá essa idéia.

** A intenção é soar babaquinha mesmo, não venham me xingar antes da hora.




#40. Animal Collective – Feels (2005)





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192 kbps



O terceiro álbum do Animal Collective foi o primeiro que ouvi. Lembro bem da sensação estranha e distante que foi transmitida nas primeiras vezes eu ouvi. Foi complicado me adequar àquela sonoridade. Mas diante de algumas repetições, o álbum foi funcionando, fluindo. Atualmente me sinto apto a somente elogiar o Feels.
A obra mais experimental do grupo de neo-psychedelia que ao longo de uma década nos ofereceu das maneiras mais variadas a concepção de distorção do pop para o bem – diria que seus álbuns sucessores (Strawberry Jam; Merryweather Pavillion) são exemplos ainda mais evidentes.
Em altos “bpm”, marcado por percussões tribais e coros insanos, a seqüência inicial do álbum (“Did You See The Words”/”Grass”/”Flesh Canoe”/”The Purple Bottle”) já mergulha o ouvinte em um oceano desconhecido sem lhe dar a menor oportunidade de respirar. Bees remete ao álbum solo de Avey Tare e Panda Bear já comentado aqui, embora seja menos conceitual (e talvez ainda mais experimental). “Banshee Beat” e seu ritmo crescente são desconcertantes, digerir (em todos os sentidos da palavra) é alcançar o nirvana de Feels.
Para finalizar, é possível dizer sem medo que Animal Collective e seu Feels são um passo ao desconhecido em pleno século XXI. Admirar ou não são outra história.


BANSHEE BEAT from chinorockwell on Vimeo.

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